sábado, 12 de junho de 2010

Barca Velha



O Vinho, especialmente o «generoso» ou «fino» como é chamado na região Duriense, e mais conhecido por «do Porto» ou ainda mundialmente por «Port Wine», será um dos temas que abordarei com regularidade neste Blogue.


Tinha já pensado fazê-lo, era um projecto em estudo para outro dos meus Blogues, mas porque não aqui??? Só espero conseguir que se apaixonem pelo tema e o vivam tão intensamente quanto eu.

Começo por explicar porquê o Barca Velha como primeira opção. Não sendo um vinho do Porto, é contudo um vinho da região demarcada do Douro, região pródiga para a produção de vinhos de altíssima qualidade. Este vinho é indubitavelmente o melhor vinho de mesa do país, reconhecido mundialmente como tal, ocupando sempre um lugar cimeiro na cotação mundial dos “Wine Experts”.

Gostaria que soubessem antes de mais, que tive a imensa honra de trabalhar na Empresa que o produz, mas muito especialmente de ter tido o privilégio de ter contactado de perto e aprendido a amar o vinho, com o célebre criador do primeiro Barca Velha, que foi lançado no mercado em 1952, o Sr. Fernando Nicolau de Almeida, figura emblemática da A.A. Ferreira, um ser único, um perfeito gentleman. Lembro-me que inventava perguntas para poder ir ao laboratório ouvi-lo explicar-mas, a linguagem do vinho só por si é lindíssima, ouvir ou ler a descrição de um vinho é uma coisa do outro mundo, mas não há ninguém capaz de o fazer como ele, ninguém mesmo.

Apesar de ser o Sr. Director Técnico, de ter verdadeiro “sangue azul” nas veias, ele próprio conduzia o seu lindíssimo Jaguar azul-marinho, sempre rejeitou chauffeurs e foi sempre a pessoa mais carinhosa que conheci na Porto Ferreira. Com ele trabalhava o Sr. Engº. José Maria Soares Franco (de quem falarei seguramente muito noutros textos), que lá ficou após a morte do Sr. Nicolau de Almeida até muito recentemente, o Sr. Eng.º Luis Vieira, bem como mais dois ou três jovens enólogos, dos quais destaco o actual responsável técnico do Barca Velha, o Eng.º Luís Sottomayor, sendo este o terceiro que o Barca Velha tem como “pai” desde que foi criado.

Transcrevo extracto de entrevista ao “terceiro pai do Barca Velha”, quando perguntado se haveriam diferenças no vinho desde a sua criação; “Algumas, mas muito pequenas. Resumidamente, diria que o Sr. Nicolau de Almeida gostava de Barcas Velhas mais robustos, o José Maria Soares Franco privilegiava a harmonia e eu, a elegância.”



Vamos agora ao vinho em si.

Chama-se Barca Velha por ser produto da Quinta do Vale Meão, no Douro Superior (Pocinho – V.N. Foz Côa). A única Quinta inteiramente implantada por D. Antónia Adelaide Ferreira, (1811 – 1896) a célebre e ilustre “Ferreirinha”. Junto à quinta ancoravam os “rabelos”, que podiam ser maiores ou menores e daí chamarem-se “barcas” ou “barcos”. A mais velha Barca, a que já não transportava pipas rio abaixo até ao entreposto, no cais de Gaia, acabou por dar o nome ao vinho. Em 2000 a produção do Barca Velha passou para a Quinta da Leda, após a aquisição da Ferreirinha pela Sogrape, sendo actualmente a Quinta do Meão pertença do Sr. Dr. Francisco de Olazabal, genro do Sr. Fernando Nicolau de Almeida, de quem seguramente escreverei muitíssimo e dos seus fabulosos vinhos, assim eu vos consiga cativar para este tema.

Este vinho foi criado à imagem e semelhança de um Porto Vintage (mais tarde explicarei melhor, mas que é basicamente o vinho do Porto de eleição) cumprindo-se assim o sonho do Sr. Nicolau de Almeida, o de criar um tinto de mesa que se assemelhasse em tudo ao que um Vintage tem de melhor. Ao ser engarrafado jovem, corpulento, robusto e sem tratamentos, (tal qual um Vintage) fica preparado para evoluir na garrafa e atingir o auge com o tempo e com a idade., fazendo com que seja o único vinho que ousa desafiar o tempo. Todos os outros vinhos, mesmos os actuais grandes tintos do Douro, são comercializados muito jovens, com apenas dois ou três anos. Por seu lado, o Barca Velha só é comercializado oito a nove anos após a vindima, e só nos anos excepcionais e conforme a sua evolução na garrafa é que é declarado como tal ou não, assim o último colocado no mercado é do ano de 2000, e curiosamente o anterior foi 1999, mas é raríssimo acontecerem dois anos consecutivos.

Vamos agora a uma prova de um Barca Velha de 1985.

Esta foi efectuada em Novembro de 2002 por Tiago Teles.



“É sempre um desafio beber um Barca Velha. Este já tinha 17 anos e foi bebido em prova cega. O nariz começou por ser doce, com aromas a marmelo, evoluindo depois para um nariz vinoso. Ligeiro caramelo. A boca é elegante. A acidez é agradável e os aromas equilibram com a boa concentração de sabor. Os taninos estão presentes, mas envolvidos no conjunto, contribuindo para um final moderado/longo.”

Castas: Tinta Roriz, Tinta Amarela, Touriga Nacional e Touriga Francesa

Curiosidade - Na CASA FERREIRINHA existe apenas uma garrafa da primeira colheita do Barca Velha – uma magnum de 1952, cujo valor é, hoje, incalculável.

Curiosidade - Destaque especial para o Barca Velha 2000, que ganhou o prémio de melhor vinho do ano.

Aprecie um bom vinho… saber sobre vinhos é uma arte divina.

Fernanda Ferreira /

3 comentários:

  1. Querido amigo Mário,

    Muito obrigada, esta foi uma prenda prometida mas mesmo assim sabe tão bem :))))
    Tenho um sorriso "de orelha a orelha" causado pela enorme alegria de voltar a ver o meu texto publicado e agora pelo Chefe Mário.

    Muito feliz, volto a agradecer, e quando quiser mais é só dizer.
    Esta é uma das minhas maiores paixões, poderia escrever horas a fio sobre vinhos e experiências vividas.

    Beijinho e bom fim de semana.

    Na Casa do Rau

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  2. Olá amigo Chefe Mário!

    Parabéns pelo excelente texto aqui publicado.
    Conheço melhor a autora do que popriamente o vinho, pelo seu preço poibitivo.
    Abraço,
    Beatriz

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  3. Chefe Mário,

    Parabéns pela escolha do tema e do vinho em questão.
    Sou amante da bos cozinha, embora tenha sido bancério toda a vida, adoro cozinhar e sei apreciar um bom vinho.

    Vim ao sítio certo.

    Parabéns pelo seu Blog e parabéns à autora deste texto, que também conheço muito bem.

    Abraço.
    J.Ferreira

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